Soul music com country, contra o racismo
Por: Roberto Rillo Bíscaro
15/09/2020
Priscilla Renea manda muito bem como compositora, tendo canções em álbuns de consagrados como Rihanna, Madonna, Demi Lovato, Selena Gomez e mais. Isso não se repete na trajetória como cantante: seu álbum de estreia – Ujkebox (2009) – vendeu umas cinco mil cópias globalmente. Deve ter sido por isso que a norte-americana só lançou seu segundo trabalho nove anos mais tarde. Coloured não deve ter feito muito melhor que seu predecessor. Chato, porque algumas letras sobre problemas raciais e a adição de elementos country, recomendam-no. Criada na parte rural da Flórida e expulsa de casa pela mãe, quando começou a lutar pelas próprias opiniões, Priscilla junta suas raízes country e tom confessional de agora-vencedora, na abertura Family Tree, cujo country é meio alternativo, daquele do tipo da Handsome Family. Ela respeita tanto o subgênero que foi à sua capital, Nashville. Por isso que Jonjo tem suave aroma rural, mas sobreposto por produção meio trap, com refrão grudento. E, claro, não podia faltar baladaça country: If I Ever Loved You não deixa pedra sobre pedra e tem até solo de guitarra meio country rock. E por falar em pedras, ela sugere ao amado construir uma casa com as pedras atiradas pelos desafetos, em Let’s Build a House, puro drama de diva soul country. Drama gritado com sua possante voz. E é isso, Coloured pode ter indícios country e até faixa reggae (Different Color), mas Coloured é soul music de grande qualidade. Heavenly é paradisíaca pra nós que amamos diva R’n’B gritando, acompanhada de dedos estalando e pianinho. You Shaped Box também é puro drama, mas a letra é de incentivo e a melodia levada por violões, que se tornam hispânicos em seu auge. Em Gentle Hands ela sapecamente pede a papai do céu um bofe escândalo, devoto, grandão e de mãos suaves. Essa idealização vem sensualizada numa espécie de blues com salamaleques trap. Que pena que ainda exista tanto racismo, senão a linda Land Of the Free poderia ser sobre outra coisa e não violência policial contra afrodescendentes. Tem até o hino nacional estadunidense solado na guitarra, como apêndice. Priscilla Renea não inventou a fusão entre soul e country, mas Coloured merecia tê-la colocado mais forte no radar do público que ainda consome black music não totalmente produzida como trap.
As publicações de textos e vídeos no site do 80 Minutos representam exclusivamente a opinião do respectivo autor
Compartilhar
Comentar via Facebook
IMPORTANTE: Comentários agressivos serão removidos. Comente, opine, concorde e/ou discorde educadamente.
Lembre-se que o site do 80 Minutos é um espaço gratuito e aberto para que o autor possa dar a sua opinião. E você tem total liberdade para fazer o mesmo, desde que seja de maneira respeitosa.
Mais Resenhas de Priscilla Renea
"Priscilla Renea" não possui mais resenhas cadastradas. Começe a escrever agora mesmo.
Sugestões

Por: André Luiz Paiz

Por: Tiago Meneses

Por: Roberto Rillo Bíscaro

Por: Vitor Sobreira

Por: André Luiz Paiz

Por: André Luiz Paiz

Por: Marcio Alexandre