Um clássico do fusion gravado por Mister Beck
Na metade da década de 70 o fusion invadia o mercado musical com força total. O estilo criado por Miles Davis que mesclava o improviso do jazz com a dinâmica do rock possuía um frescor que entusiasmava os músicos mais virtuosos. Porém, que pese o fato de unir dois estilos antagônicos, o fusion era um estilo predominantemente liderado por jazzistas, ou músicos vindo deste universo. Jeff Beck, o inglês de gênio irascível foi um dos poucos músicos de rock a se aventurarem com êxito pelo estilo. O guitarrista havia integrado a Santíssima trindade do Yardbirds aos lado de Jimmy Page e Eric Clapton e se aventurara em uma bem sucedida carreira solo com seu Jeff Beck Group. Porém, no ano de 75, o músico lançou o festejado “Blow by Blow’ e iniciou uma parceria prolifica com o produtor George Martin, considerado por muitos como o quinto Beatle. Beck Volta então aos estúdios comandado novamente por Martin para gravar um novo álbum. Porém, o guitarrista resolve reformular seu grupo de apoio trazendo músicos mais virtuosos e com certa experiência no estilo. Jeff inicia neste disco uma nova parceria, agora com o tecladista Tcheco Jan Hammer, um especialista em cuidar de sintetizadores e que havia integrado por anos o Mahavishnu Orchestra de John Mclaughlin. Hammer levou consigo o baterista Narada Michael Walden, que além de também ter integrado o Mahavischnu era um exímio compositor. Max Middleton foi chamado apenas para cuidar do piano elétrico e do clavinete. Mas em minha opinião, a cereja do bolo foi a entrada de Wilbur Bascomb, baixista com fortes influências de soul music e funk americano, tendo trabalhado com músicos tão dispares como James Brown, João Donato e Jack Mcduff. Toda essa bagagem foi essencial para o estilo groveado que se ouve em todo o trabalho. Vale destacar ainda a presença do baterista Richard Bailey em duas faixas. O disco abre com "Led Boots". Dizem ser uma suposta homenagem ao Led Zeppelin, apesar de eu duvidar desta informação. A faixa começa com uma bateria pesada seguida da entrada pungente de Beck. É uma composição de Middleton onde o baixo pulsante repete o riff base indefinidamente amparando a melodia. Uma base precisa e fenomenal feita pela cozinha; “Come Dacing” é um tema de Narada. Se inicia com baixo pra lá de swingado de Wilbur, seguida de notas esparsas de piano que seguram o ritmo até a entrada do líder. Ela possui um andamento mais lento, quase um midi tempo. Destaque para a bateria bem encaixada de Walden e o piano elétrico bem colocado de Max; Em seguida temos um dos pontos altos do álbum com "Goodbye Pork Pie Hat", uma releitura do clássico de jazz do baixista Charles Mingus. É um dos mais belos Covers já gravados desta canção, que mostra o refinamento do guitarrista na escolha de timbres e músicas, além de deixar claro sua aproximação com o estilo nascido em Nova Orleans; “Head For Backstage Pass” é um curto tema composto por Bascomb e o tecladista Andy Clarke. É a faixa perfeita para o baixista mostrar todo seu talento e estilo. Uma faixa calçada no funk americano com altas doses de soul e jazz; Já na segunda metade do álbum surge “Blue Wind”, uma canção composta por Hammer para coloca-lo em evidência. Durante todo o tema, teclados e guitarras duelam tentado tomar para si a atenção do ouvinte. É a música mais conhecido do tecladista, sendo composição obrigatória em todas suas apresentações posteriores com sua banda solo; “Sophie” foi composta por Walden. A canção começa lenta e vai se desenvolvendo a medida do tempo, se transformando em um grande tema fusion com destaque para a integração entre bateria e teclados; A faixa seguinte “play with Me” começa sincopada, calçada no onipresente Bascomb. Os sintetizadores de Hammer é uma peça importante na construção do tema, assim como o piano de Max que se mostram antagonistas da guitarra de Beck; “Love is Green” é uma balada que encerra o álbum de maneira primorosa, com a guitarra de Jeff soando melódica e até mesmo progressiva. “Blow By Blow” é um excelente álbum, mas é inegável que o guitarrista alcançou seu amadurecimento musical com “Wired”. O disco foi lançado em maio de 1976 e serviu para consolidar o nome de Beck no cenário mundial do fusion. Pela primeira vez um músico de rock havia ganhado notoriedade em um estilo predominado por jazzistas. Beck continuaria surpreendendo fãs e detratores nos anos seguintes, mas este é um assunto pra outro post.
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Sobre Márcio Chagas
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Sobre o álbum

Wired
Álbum disponível na discografia de: Jeff Beck
Ano: 1976
Tipo: CD/LP
Avaliação geral: 5 - 3 votos
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