Um álbum controverso, polêmico, injustiçado, e bom!
De tempos em tempos, acredito que todo o fã de musica de maneira geral deveria fazer o seguinte exercício: pegar aqueles álbuns que não desceram bem na época de suas aquisições, e escutar novamente, agora livre do senso comum gerado na época, as críticas recorrentes e opiniões de massa. Ouvir como se fosse a primeira audição, isento de pré conceitos e expectativas pré moldadas. Digo isso por que o que temos aqui - Renewal , o polêmico disco de 1992 da adorada banda de Trash Metal alemã - é talvez um dos discos que mais mereçam esse cuidado. Na época de seu lançamento, o Kreator já era uma banda respeitada dentro da cena metálica, tendo em sua bagagem discos de peso e reconhecimento mundiais, como "Pleasure to Kill", "Extreme Agression" e "Coma of souls". Assim, as mudanças - drásticas - que foram apresentadas em Renewal geraram um onda de insatisfação e descontentamento por parte de uma grande parcela de fãs. Era comum naquela época, e mesmo ainda até hoje, dizer que esse disco era uma tentativa frustrada da banda de se alinhar com as modas pelas quais a musica pesada atravessava na época, à dizer, o industrial. De fato, as mudanças mercadológicas ocorridas no inicio dos anos 90 pesavam sobre o trash metal. Não apenas o Kreator, mas bandas como o metallica, Destruction e Testament passavam por grandes mudanças sonoras, seja por necessidades criativas, seja por exigências comerciais. Mas, agora que o tempo passou e os ânimos se acalmaram...será que o álbum era tão ruim mesmo? Resposta: Não. E digo mais: Não só não era ruim, como trazia muitas coisas interessantes. Em primeiro lugar, cabe ressaltar que a maior influência apontada na época, no caso o Industrial, praticamente inexiste ao longo das canções. Se você pegar as bandas de metal industrial que pipocavam na cena, verá que nenhuma delas serve minimamente de parâmetro para escutar Renewal. O que temos aqui é AINDA SIM trash metal. Peculiar, inusitado e cheio de outras muitas influências (que não o industrial), mas ainda sim é trash metal. Muitas canções trazem passagens mais arrastadas, como as musicas "Winter Martyrium", "Karmic Wheel" e "Reflection". Essa influência talvez advinda do Doom metal se faria mais presente anos depois no (bom) disco "Endorama" (que também flertaria com o gótico, mas isso é outra história...), onde a banda mais uma vez teve a coragem de buscar novos horizontes além daqueles nos quais possuía inegável maestria. Já outras musicas, como "Brainseed" possuem claras influências de punk rock e hardcore. E essa mesma música, Brainseed, com toda sua influência punk ainda apresenta em contraste uma passagem atmosférica relativamente longa. A verdade é que Renewal nunca foi uma tentativa da banda de se adequar ao mercado. Hoje fica claro que o lançamento destoava não apenas do que a própria banda havia fundamentado, mas também destoava de tudo aquilo que fazia sucesso no mesmo período. Renewal foi o primeiro - e não o único, como "Endorama" mostrará anos mais tarde - salto criativo que a banda daria, tanto no sentido instrumental quanto lírico. As letras de Renewal saem bastante do tom revoltado que a banda apresentava, e mostra uma visão mais profunda e menos "chapada" da realidade. Todas as musicas possuem um bom trabalho de guitarras, as vezes beirando o excelente. A cozinha é precisa, a bateria é técnica e o baixo apresenta peso. A controvérsia, lógicamente, são os vocais de Mille Petrozza. Confesso que a primeira vez que ouvi o disco, tive uma impressão muito negativa sobre vocais ao longo de todo disco. Mas claro que eu estava esperando o mesmo que havia ouvido em Extreme Agression e Coma of Souls, e talvez eu estivesse sendo injusto com o material apresentado. E hoje é exatamente essa minha opinião. O vocal se adéqua perfeitamente áquilo que as letras contam. Há uma angustia velada, uma raiva contida na forma em que é cantado. Certamente, uma das influências advindas do Doom metal que é possível perceber aqui e alí ao longo do álbum, que tem a curta duração de pouco mais que 38 minutos (talvez essa seja a maior influência do punk em todo disco!). Em sua própria proposta, é um disco consistente, linear, honesto e ousado. Pode não ser o Kreator que tanto amamos - eu ainda sou bem mais o Extreme Agression - mas é um Kreator que não mancha o seu próprio legado. Recomendo a todos que despudoradamente re-escutem esse disco. Talvez, assim como eu, vocês descubram um som que ainda soa fresco e criativo mesmo após 23 anos!
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Sobre Tarcisio Lucas

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Sobre o álbum

Renewal
Álbum disponível na discografia de: Kreator
Ano: 1992
Tipo: CD/LP
Avaliação geral: 3,62 - 4 votos
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