O tiro certeiro que mudou a cara do BRock
Quem ouviu o disco Televisão de 1985, não imaginaria o salto que a banda daria no ano seguinte, era como se o passado fosse apagado com uma varinha de condão. Os resquícios de Pop e New Age foram expurgados, dando lugar a um som mais pesado e sujo, com boas doses de punk. As letras sobre politica e religião também pesaram no renascimento titânico, transformando Cabeça Dinossauro em um divisor de águas do rock brazuca. Alem disso, o período conturbado com a prisão do vocalista Arnaldo Antunes e do guitarrista Tony Bellotto e a produção do midas Liminha serviram como influência na mudança estética que o grupo tomou. Enfim, eles encontraram o caminho das pedras. A faixa título é composta por linhas minimalistas de guitarra e uma levada primitiva na percussão. A mensagem sobre o nome desconexo, não tem muito a dizer, trata-se de uma brincadeira interna dos membros. "AA UU" continha uma letra que fazia parte da ingenua etapa inicial, na parte instrumental o destaque fica no solo de Tony Belloto e também nos graves com slaps do ruivo Nando Reis. Aqui a parada fica pesada com "Igreja", a composição do ateu Nando Reis é um protesto ferrenho contra a controversa instituição católica. Dizem que Arnaldo Antunes boicotou a mesma, chegando a sair do palco enquanto Igreja era tocada. Engraçado que eles apresentaram "Igreja" em programas de TV, isso na recente abertura pós ditadura !! e se analisarmos bem, o efeito seria muito pior nos dias de hoje, com o atual politicamente correto travestido de democracia. Não bastasse a cacetada com Igreja, a faixa "Policia" também ficou marcada, e toda revolta foi por conta da prisão de Arnaldo Antunes e Tony Belotto por posse de heroína. "Estado Violência" segue a mesma perturbação, só que por caminhos diferentes, o alvo é mais abrangente. "A Face do Destruidor" tem apenas 38 segundos de insanidade e arroto punk, com o vocal gravado no primeiro take. Enquanto "Porrada" atacava os cargos dos que ganhavam muito e faziam pouco, assim como é hoje. Focando nos destaques, ainda temos "Bichos Escrotos" ecoando forte na voz de Paulo Miklos, um hit bem elaborado na guitarra cheia de suingue, ótimos teclados e um solo de baixo com direito a slap e efeitos no pedal wah wah. Na verdade Bichos Escrotos já era tocada bem antes, lá pelos idos de 82/83 e só teve passaporte garantido com Cabeça Dinossauro, a espera foi acertada, pois encaixou perfeitamente na proposta radical do disco. O Reggae "Família" tocou horrores na época e só prova o quanto os Titãs eram bons em fazer música. Analisando friamente, ele diverge no conjunto da obra, no entanto, esse ecletismo é que faz tudo ter graça. "Homem Primata" continua atual, e talvez daqui a 30 anos mantenha esse status. Nessa, eles reuniram a rebeldia contra o sistema capitalista e sem perder a "piada" cutucaram novamente a religião. Na ultima faixa "O Que" temos claramente uma canção de Arnaldo Antunes, pois sua forma de escrever era diferente dos demais, Arnaldo brincava com as palavras, não precisa nem pegar o encarte do disco ou procurar outras fontes para sacar. O texto musicado de Arnaldo, remetia ao som mais pop / eletrônico, sonoridade explorada em alguns trabalhos posteriores. Uma boa canção para encerrar o disco de forma imprevista. Cabeça Dinossauro tornou-se clássico instantâneo e dividiu a cena BRock que não era tão ofensiva e direta como forma de protesto (Exceto bandas do underground) por outro lado, alguns criticavam o grupo por fazer um punk plastificado. O que realmente importa é que o rock nacional ganhou muito com Cabeça Dinossauro e jamais foi o mesmo.
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Sobre Marcel Dio

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Sobre o álbum

Cabeça Dinossauro
Álbum disponível na discografia de: Titãs
Ano: 1986
Tipo: CD/LP
Avaliação geral: 4,8 - 5 votos
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