
Resenha
Essa Tal De Gang 90 & Absurdettes
Álbum de Gang 90 e as Absurdettes
1997
CD/LP
Por: Marcel Dio
Colaborador Sênior
01/05/2022
Perdidos na selva new wave
Gang 90 passou como um flash pelos anos 80, entretanto, tem histórias ao montes para contar e botem histórias nisso, das mais cômicas! O debut realmente mudou todo um cenário, mesmo com a antecessora Blitz em sua cola, em comparação o primeiro lançamento é mais refinado, embora os próprios participantes entreguem que eram uma completa bagunça ao vivo, por muitas vezes sem ensaios ou sequer passagem de som. Vejam bem, não vivi essa época, era um pirralho e sequer sabia sobre bandas, claro que ouvi o famoso Perdidos na Selva, tocava sempre nas rádios. As estórias ou histórias que irei contar são as que vejo e repasso, afinal, todos usam textos e distribuem na maior cara de pau. "Velhas novidades" só podem vir de quem assistiu, conhecidos ou dos próprios membros. Então pincelei algo aqui e ali e fiz um resumão bem sem vergonha para os mais novos entenderem a importância de um trabalho que misturava rock, new wave e as maluquices de Frank Zappa, todas por vias do "porra louca" Julio Barroso. Sobre Julio Barroso recai os contos mais interessantes desse período de nascimento que desaguaria no BRock. Lobão participou tocando bateria, segundo o próprio, convidado por Julio para tocar de forma repentina sem ensaios ou nada, apenas com a dica de fazer um ritmo de marcha para a entrada da dançarina e vocal Alice Pink Pank. O resto do show foi no sistema de empurrar com a barriga e seja o que Deus quiser. Lobão conta uma boa: "Quando fomos para Florianópolis hospedamos num hotel chinfrim e pegamos uma bateria de big band encostada em um canto qualquer. Sabia que a pele da caixa seria detonada assim como os tom tons. Catástrofe anunciada e os itens da baterias foram para o espaço já no começo do show. Enquanto batia-me o desespero, Julio Barroso tranquilamente iludia a plateia dizendo : - olha pessoal, vamos dar uma pausa e já voltamos, somos como uma seita, espero que entendam, vamos ao camarim emanar vibrações e logo estaremos aqui. Num corre corre danado saímos com a Kombi e demos o fora como relâmpago. Júlio ainda teve a cara de pau de ficar na cidade e ir para o melhor hotel, dizendo que estava farto do outro hotel caindo aos pedaços. Chegou na portaria e como mestre de oratória reclamou seu nome na suíte presidencial, fez de tal forma a convencer o funcionário e assim ficamos hospedados junto a banda. Entre meio a discussões sobre voltar ao show, como sair do hotel e revelações amorosas, nasceu a canção Noite e Dia". Julio era desencanado ao extremo, convidava quem lhe desse na telha para tocar na Gang 90. E as Absurdetes, verdadeiras beldades. Entre elas a irmã de Julio (Denise Barroso) e Alice Pink Pank, uma holandesa que passou férias na casa da amiga e acabou virando namorada de Júlio. "Posteriormente" casou-se com Lobão após a morte do vocalista. Júlio morreu precocemente em 1984 após uma queda acidental (ou não) de seu apartamento, cujo a cama ficava bem na altura da janela para despejar líquidos etílicos sem precisar usar a privada. O disco é uma verdadeira pérola com dois hits principais, uma delas a imortal Perdidos na Selva, ao qual o refrão pertence a ninguém menos que Guilherme Arantes, também supervisor do álbum. A versão original saiu com uma batida reggae / new wave, posso afirmar que jamais deveria tomar o lugar do single, muito pelos instrumentais puxados a disco music em batidas viciantes ao extremo. Vejam o vídeo na parte dos comentários. Nosso Louco Amor fez parte da novela Louco Amor, canção com refrães ganchudos e paralela em destaque radiofônico com Perdidos na Selva. Baixo pulsante, guitarras e teclados trabalhando de forma sutil e não menos relevante. Noite e Dia não tem nada a ver com a conhecida versão solo de Lobão, por ser mais acústica. Os solos são harmoniosos, mas é importante deixar claro a inferioridade primária frente aos arranjos aplicados por Lobão. Seguindo a linha fora de ordem, cito a espetacular Dada Globe Orixás (Spaced Out In Paradise), canção original de Cliven Stevens. A Gangue 90 colocou sua assinatura e deixou a matriz comendo poeira. Um baixo demolidor em slap, efeitos de guitarra, vocais e um requinte de fazer inveja a qualquer grupo dos anos 80. Afinal, se alguns shows foram puros improvisos, no estúdio participavam o tecladista Luiz Paulo Simas, Tavinho Fialho no baixo, Gigante Brasil na bateria e Guilherme Arantes com teclados na faixa Noite e Dia. Eu Sei, Mas Eu Não Sei (I Know But I Dont Know), foi adaptação de uma música de Frank Infante, baixista do grupo Blondie. Impressiona como capturam referencias que além de Blondie, navegavam entre Frank Zappa e Nina Hagen para jogar um peso quase heavy metal as guitarras. Em Românticos A Go-Go eles fazem brincadeiras com letras, citando personalidades de todas as artes. Convém justificar que as vocalistas não eram só belos rostinhos, a performance vocal é qualificada e deixa um ar de frescor assimilado mesmo depois de quase quarenta anos, provando ser atemporal. O reggae toma parte da trilha Telefone (um tanto fraca) e a sofisticação volta com Jack Kerouac, obra onde as meninas brilham novamente em conjunto com a guitarra. Mayacongo aproxima-se mais da linguagem Blitz, nada especial para a proposta. Convite Ao Prazer tem delirantes pontuações de guitarra. De veras meia tola em letras nonsenses a lá Eduardo Dusek. Ao ponto que o instrumental parte para rock n' roll e anima a festa com riffs geniais e uma série de tonalidades que dão um baile em criatividade. Após morte de Julio Barroso a Gang 90 tentou sobreviver lançando mais dois discos, Rosas e Tigres (1985) e Pedra 90 (1987), o ultimo um ótimo trabalho (apesar da formação descaracterizada). Rosas e Tigres teve pouca recepção midiática e ficou devendo, Julio Barroso fazia falta.
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Sobre Marcel Dio

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Sobre o álbum

Essa Tal De Gang 90 & Absurdettes
Álbum disponível na discografia de: Gang 90 e as Absurdettes
Ano: 1997
Tipo: CD/LP
Avaliação geral: 4,5 - 2 votos
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