Tempos de glória
Tarefa árdua analisar os seis primeiros trabalhos do Black Sabbath e decifrar qual é o melhor. Em analogia com o futebol, é como se um time ganhasse seis títulos importantes em sequencia. Até hoje minha situação quanto a essa fase vitoriosa é itinerante, tamanho o equilíbrio, num dia posso escolher Paranoid, no outro o Sabotage. Vol 4 também é inquestionável e a porta escancarada para a fase dos entorpecentes, tanto é que o nome dado inicialmente foi Snowblind. A gravadora achou pesado e pediu mudanças. Só para ter noção da farra, eles guardavam cocaína em caixas acústicas. A conta pelos excessos cobraria o preço após Sabotage, por enquanto a criatividade convidava os fãs a ouvirem os mais preciosos riffs das mãos do mestre Tony Iommi. Em relação a Master of Reality, o quarto álbum soava ainda mais obscuro, consagrando temas que bandas de stoner e doom metal copiariam pela eternidade, vide o inicio com Wheels Of Confusion em progressões de cadencia com um delirante e genial Bill Ward destroçando as baquetas. Vejam que é arriscado jogar viradas e mais viradas em um ritmo que pede a segunda marcha, outro somente acompanharia as batidas e tentaria no máximo dar uma "chamada" tímida aqui / acolá para não atrapalhar e não ferrar o som, Bill fez a diferença pela ousadia, técnica e noção de aplicação. Wheels of Confusion tem mudanças bruscas e tempo longo para os padrões apresentados até então. Tomorrow’s Dream segue a receita clássica do bolo, criar tudo a partir de um riff. Toda a gama de peso aliado a voz de Ozzy, bastariam, no entanto, entregaram dobrado com belos solos e arranjos. O único pecado para Vol 4 é descrito por Geezer Butler, pois não gostou da mixagem do contrabaixo. Se não me falha a memória, usou outro instrumento por conta de um roubo ou esqueceu-o em outra cidade, devido a pressa para gravar. Caso similar ao show gravado oficialmente no Hammersmith Odeon (1978) na qual teve o baixo roubado e foi socorrido por ninguém menos que Glenn Hughes, sim, aquele rickenbacker vermelho do vídeo. Sobre a gravação, concordemos com o baixista, realmente os graves perderam em definição e ganho. A saída de Rodger Bain fez falta nessa etapa. Changes é a balada de minha vida. Ouvi pela primeira vez na FM e fiquei de boca aberta sem entender como alguém faria algo tão perfeito. A letra discursa sobre mudanças, precisamente a separação de Bill Ward. Quem toca o piano é Tony Iommi, quem diria hein? É bom demais ver um vídeo que circula sobre o período do "13", em que o Sabbath resgata canções como Wicked World, The Wizard e Changes. Kelly Osbourne fez uma versão com o pai, e ... ambos assassinaram a mesma. Nunca ouviu? É bom ter estomago. Ainda sobre Changes, encontrei um maluco tão fã quanto eu, na verdade um colega que também era doido por Raul Seixas e trabalhava numa loja de discos. E olhem só !, como não tinha acesso aos aparelhos, pediu para que eu gravasse uma K7 com Changes, sim, a fita toda rodando o mesmo som. História antiga que merece lembrete. Não há muito o que desvelar sobre os experimentos de FX, apenas um temperinho de estranheza para a entrada de Supernaut. Reza a lenda que Tony Iommi usou o próprio crucifixo para arrancar ruídos. Supernaut é outra pedrada! Ozzy brilha de forma soberana e Iommi mereceria uma medalha de honra ao mérito. A letra tem seu valor e cabe decifra-la "ad lib". No meu quadro mental, temos uma viajante do tempo ou eremita tentando a iluminação sob efeitos de psicotrópicos primários. Snow Blind como revelada anteriormente, era para dar nome ao álbum. Por questões lógicas a ideia foi abortada. Uma ótima faixa e pedida certeira nos shows e compilados. Cornucopia entra no meu top 10. O instrumental é perfeito e pai de muita coisa que o finado grupo Cathedral usufruiu. O desempenho de Bill Ward? Algo sobrenatural. As batidas no gongo ao começo da segunda parte arrepiam qualquer um. A composição remete ao que passavam na época, toda a fama, luxo e drogas. Mesmo ludibriados pelo jogo e por toneladas de coca, tinham consciência de como funcionava o mundo empresarial e a fabriqueta de ilusões. Contudo ainda tomaram "volta" de um sujeito chamado Patrick Meehan, devidamente "homenageado" ou amaldiçoado em The Writ (Sabotage). A beleza acústica da instrumental Laguna Sunrise, fala por si. St. Vitus Dance é mais simplória e curta, enquanto Under The Sun / Every Day Comes and Goes pega o clima de Wheels of Confusion e amplifica a pegada heavy hard em pleno 1972, quando o termo raramente era usado, servindo de pilar para grupos de todas as facetas e divisões do metal, como o doom, stoner, black metal, e todo apanhado de som cavernoso que vem a mente. Preste bem atenção a sua mensagem, uma ode a quebra de paradigmas. Batido o martelo e a nota é 10 Formação: Ozzy Osbourne – vocal Tony Iommi – guitarra Geezer Butler – baixo Bill Ward – bateria Faixas: 01. Wheels of Confusion 02. Tomorrow’s Dream 03. Changes 04. FX (instrumental) 05. Supernaut 06. Snowblind 07. Cornucopia 08. Laguna Sunrise (instrumental) 09. St. Vitus Dance 10. Under the Sun / Every Day Comes and Goes
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Sobre Marcel Dio

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Sobre o álbum

Vol. 4
Álbum disponível na discografia de: Black Sabbath
Ano: 1972
Tipo: CD/LP
Avaliação geral: 4,36 - 18 votos
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