Revisitando Astral Weeks
Astral Weeks já foi descrito como hipnótico e uma perfeita mistura entre o folk celta, o jazz e o blues, mas talvez não seja um álbum de rock & roll. Há quem o considere o maior disco cult já feito, apesar de nunca ter alcançado números significativos de venda. Sua narrativa poética revisita a educação de Van Morrison em Belfast, passando por intrincados personagens, detalhes do cenário urbano com suas lojas, ruas, becos e calçadas presentes em suas lembranças, como fica evidente na canção “Cyprus Avenue”. Com apenas 23 anos à época de sua gravação, em Astral Weeks Van Morrison parece estar pintando um quadro e sua busca não parece ser o ouvinte e sim um mergulho em si mesmo. As narrativas o aproximam da temática beat professada por Jack Kerouac, contando algum tipo de história, sem se manifestar claramente e deixando o resto para nossa imaginação. Lançado em 1968, Astral Weeks se equilibra em uma fusão emocional de delicadas e sutis estruturas musicais, com a voz elástica de Morrison e seu violão, acompanhados por um grupo de músicos americanos de jazz, que mal o conheciam e que tiveram menos tempo ainda para ensaiar suas músicas. Na sonoridade de Astral Weeks há baixo acústico, bateria, flautas, vibrafone, além de metais e cordas, que foram adicionadas às canções um mês depois de sua gravação. Isso conferiu ao disco uma intensidade de “jam session” jazzista, com total liberdade de improvisos, experimentação e espontaneidade dos músicos envolvidos. São apenas oito canções e algumas delas evocam o misticismo, como a faixa-título com seus poucos mais de 7 minutos de imagens desconexas e oníricas. O lirismo otimista e ingenuamente apaixonado, canta a reconquista do amor perdido em cada verso de “Sweet Thing”. A melancolia cifrada e cheia de dor que está presente em “Madame George”, é tão desconcertante quanto a real identidade da personagem citada na música, possivelmente uma prostituta ou um travesti que habitava as ruas de seu bairro de infância, ou ainda uma surreal referência à esposa e musa do poeta irlandês William Butler Yeats, que claramente influenciou algumas das canções de Van Morrison. Há ainda a poesia delirante e terna (eterna) cantada febrilmente em “Ballerina”. Passados mais de 53 anos de sua concepção, Astral Weeks permanece uma obra única, às vezes soa hermética para não iniciados, mas é uma das experiências de escuta mais gratificantes da música popular moderna e seu impacto ainda permanece o mesmo. *Agradecimento especial ao amigo e musicólogo Marco Antonio Bruno Lopes, autor da resenha.
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Sobre Marcel Dio

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Sobre o álbum

Astral Weeks
Álbum disponível na discografia de: Van Morrison
Ano: 1968
Tipo: CD/LP
Avaliação geral: 5 - 2 votos
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