Uma viagem nas ondas sonoras de Rypdal
O guitarrista norueguês Terje Rypdal apareceu no final dos anos 60 e foi um dos principais nomes do jazz europeu, gravando inúmeros álbuns pela prestigiosa gravadora ECM. No entanto, a relação de Rypdal com a guitarra é diferente e exótica. O musico não utiliza apenas o instrumento para base e solos como fazem Pat Metheny ou John Scofield por exemplo. Terje vai além, utilizando camadas de guitarras e vários efeitos sonoros, criando texturas as vezes sombrias, as vezes dissonantes e espaciais. “Waves” é um disco de 1978, onde Rypdal inicia a parceria bem sucedida com o trompetista dinamarquês Palle Mikkelborg, que perdura até os dias de hoje. Palle foi fundamental na construção da sonoridade do disco, seja utilizando seu instrumento para fazer o contraponto correto com a guitarra do líder, seja auxiliando Terje na criação de efeitos e camadas de sintetizadores. Completa o quarteto o excelente baterista Jon Christensen, um músico subestimado mesmo dentro da seara jazzística, e o baixista Sveinung Hovensjø; Logo na abertura temos "Per Ulv", que embora seja uma das canções mais conhecidas de Rypdal, foi um erro colocá-la como primeira faixa. Eu explico: Essa música possui uma bateria eletrônica que cria base para uma batida meio afrobeat de Christensen ao fundo. Hoje ela pode soar descolada, mas deve ter desagradado bastante os puristas de plantão, e como Terje não utiliza mais este recurso durante o restante do álbum, foi realmente arriscado usa-la como cartão de visitas, apesar de sua qualidade; A minimalista “Karussel”, soa extremamente arrastada, um cool jazz, tendo como protagonista o trompete de Mikkelborg; A seguir vem “Stenskoven”, um tema do trompetista. É uma canção mais climática, com um andamento meio circense; A faixa titulo é calcada nos pratos e caixa de Jon, com muitas texturas sonoras amparando a guitarra; “The Dain Course” é a minha favorita do disco. Tem como base o baixo extremamente melódico de Hovensjø. O trompete “milesdaviano” a frente da canção é amparado por acordes flangeados da guitarra flutuando a sua volta; Por fim temos “Charisma”, passional e arrastada, onde Rypdal apresenta uma guitarra mais limpa, tendo como contraponto o trompete de Palle. Terje Rypdal nunca fez musica de fácil digestão. Mesmo para os amantes do jazz sua sonoridade pode soar estranha e descompassada. Mas sua música possui uma riqueza harmônica impar e deve ser conhecida por todos que apreciam música instrumental de qualidade. “Waves” é uma excelente porta de entrada para quem quer conhecer este diferente universo musical.
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Sobre Márcio Chagas
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Sobre o álbum

Waves
Álbum disponível na discografia de: Terje Rypdal
Ano: 1978
Tipo: CD/LP
Avaliação geral: 4,5 - 1 voto
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