Um disco contemplativo e necessário
Eis que 2021 traz o vigésimo segundo disco de estúdio da lenda do rock progressivo inglês. Seria humanamente impossível traçar uma linha histórica das infinitas mudanças de formação do conjunto, e logicamente aqui temos uma formação diferente de qualquer outro disco do grupo, ainda que todo mundo já tenha dado as caras em maior ou menor grau na história da banda. Até aí, nada de novo. No entanto, mesmo com um histórico tão mutável de formações, uma coisa sempre foi uma constante ao longo das décadas: o bom gosto musical. Mesmo nos momentos em que tivemos grandes mudanças no direcionamento do grupo, pode-se dizer que o que se propunha era feito com técnica e competência (ainda que não conseguissem agradar todo mundo). Pois bem, "The Quest" continuar a nos brindar com a mesma competência e exuberância técnica de sempre. E digo mais: trata-se de um disco necessário, por conta do aspecto contemplativo e sereno que transmite. Em um mundo que há anos vem em turbilhão de eventos e parece caminhar sempre a uma velocidade estonteante e vertiginosa, "The Quest" soa para mim como uma parada necessária. É como parar o carro no acostamento após horas de viagem alucinante, e passássemos o resto das horas daquela tarde apenas observando a estrada, os carros que passam, as montanhas e o céu. Placidamente, como se fosse um exercício zen de concentração e esvaziamento da mente. E coloco isso como uma grande qualidade aqui, que isso fique claro. No geral, "The Quest" pega os momentos mais épicos do disco "Magnification", junta com o clima introspectivo de "Fly From Here", acrescenta a leveza totalmente despretensiosa do "Heaven and Earth", e ainda revisita alguns aspectos sonoros da fase mais progressiva dos anos 70, em um todo harmonioso e elegante, profundo, sem pressa e coeso. As guitarras de Steve Howe estão MUITO presentes, nos brindando com solos e harmonias que deliciosamente fluem ao longo das músicas, sendo esse em minha opinião o grande destaque do álbum. A voz de Jon Davison se encaixa muito bem em tudo e em todos os momentos, dando vida a melodias vocais belíssimas, variadas e complexas do ponto de vista técnico. As letras apresentam um forte teor espiritual (que é totalmente diferente de "religioso"), e de fato muitos momentos se aproximam da música New Age. A bateria de Alan White aqui está variada e repleta de mudanças rítmicas, deixando de lado aquele minimalismo quase militar que soou tão apagado no disco anterior do grupo. Billy Sherwood, velho parceiro da banda, assume o baixo. Ainda que não apresente a genialidade do saudoso Chris Squire, cumpre com competência essa função. Invés de tentar emular o som do Mr. Squire, Sherwood mantém a própria característica e sonoridade, o que acho muito válido do ponto de vista musical. Chris Squire faz uma falta tremenda e sua técnica e estilo é insuperável, o que não quer dizer que seu substituto deva soar como ele. Se eu tivesse que apontar destaques, seria "The Ice Bridge", que abre o disco e é a melhor composição do Yes em muitos e muitos anos. "Music to my ears", que faz uma ponte inseparável do lado pop do grupo com alguns elementos do lado mais progressivo. E "A living Island", uma viagem introspectiva cheia de violões e vocais maravilhosos. Mas a verdade é que nenhuma música aqui soa descartável. Quem domina o idioma perceberá como a parte instrumental acompanha o que está sendo cantado (ou vice versa,). Em resumo, um grande Lançamento de uma grande banda. Um disco que claramente se dá o direito de ter uma identidade própria. Ainda há muitos fãs que aguardam uma volta ao que eles fizeram na década de 70, mas a verdade é que essa volta nunca acontecerá. Isso não deve impedir a gente de parar nosso carro no acostamento da rodovia, e ficar contemplando a vida por algum tempo, como se o tempo diminuísse sua marcha, escutando "The Quest". A Busca. A missão. Esse disco do YES é um contraponto a esse senso de urgência que parece ser universal. Um disco necessário, extremamente necessário.
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Sobre Tarcisio Lucas

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Sobre o álbum

The Quest
Álbum disponível na discografia de: Yes
Ano: 2021
Tipo: CD/LP
Avaliação geral: 3,38 - 4 votos
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24set, 2021
Quest é um disco que soa moderno, mas ao mesmo tempo, consegue deixar que o ouvinte sinta o Yes que parecia estar desaparecido
Tiago Meneses
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