
Resenha
New Blood
Álbum de Peter Gabriel
2011
CD/LP
Por: Roberto Rillo Bíscaro
Colaborador Top Notch
20/08/2021
Introspectivo e solene
Em 2010, Peter Gabriel lançou Scratch My Back, coleção de covers orquestrados. Para sair em turnê, o ex-Genesis orquestrou suas próprias composições a fim de dar consistência aos shows. Essas releituras resultaram em New Blood. Provando que grandes mentes pensam igualmente, mestra Kate Bush também lançou álbum de releituras naquele ano. Sem releituras dos funkaços Sledgehammer e Big Time – que fizeram a glória de massa de Gabriel em 1986 – New Blood pesca canções dos álbuns de 1980 em diante e é, em geral introspectivo e solene, mesmo em seus momentos mais minimalistas. A abertura fica por conta de Rhythm Of the Heat; grande desafio. Como substituir a frenética percussão e gritarias tribais por orquestra? Gabriel e sua trupe dão conta do recado, mantendo a urgência e certo caráter ritualístico. Em geral, isso se repete ao longo de New Blood: as canções ganham outra roupagem e assumem identidade própria, mesmo que se continue preferindo as versões originais. As africanices e tribalismos gabriélicos, porém, acabam em um beco. Se o Gabriel de 40 anos atrás rendia-se ao calor do ritmo africano, submetendo-se ao espírito que o possuía; aos 61 anos de idade, tudo foi substituído por ocidentalizada orquestra dando a impressão de simulacro do simulacro. A seção final de Rhythm of The Heat abandona sua africanidade para transformar-se em trilha sonora pra cena de suspense ou roubo. Os vocais roucos e maduros ganham destaque em canções como Intruder e Darkness, cujas orquestrações destacam a voz do cantor. Como Bush, Gabriel aprendeu que menos é mais. O mesmo pode ser dito com relação à poesia de suas letras: o relativo despojamento orquestral de Wallflower e Mercy Street ressaltam a letra. Ponto fraco são os chinfrins backing vocais femininos. Gabriel oscila entre a fúria e o apelo na terapêutica Diggin’ In The Dirt, mas o “I told you, I told you, I told you” de apoio brocha o clima. Sei que é tarefa ingrata substituir Liz Fraser - cognominada “A Voz de Deus” por ala da imprensa musical britânica nos anos 80 – ou Kate Bush em Downside Up e Don’t Give Up respectivamente. Mas, a menina que assumiu os postos não dá. Em Don’t Give Up, especialmente, onde ela soa como uma lebre tentando imitar Björk. New Blood vem em edição simples e de luxo, que tem um segundo CD com as faixas apenas instrumentais e uma bônus, Blood of Even, originalmente dueto com Sinead O”Connor.
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Sobre Roberto Rillo Bíscaro

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Sobre o álbum

New Blood
Álbum disponível na discografia de: Peter Gabriel
Ano: 2011
Tipo: CD/LP
Avaliação geral: 3,5 - 2 votos
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