Entre o espontâneo e o experimental
Eis que Paul McCartney nos entrega mais um disco da série "McCartney", em que o músico compõe, produz e toca todos os instrumentos. Desta vez, o lockdown permitiu com que o músico pudesse trabalhar em algumas ideias antigas e outras novas, presenteando o fã com mais um disco de estúdio. Se você conhece suficientemente de Beatles, mas pouco da carreira solo de Paul, "McCartney III" certamente não lhe agradará. Temos aqui um disco sem hits - talvez um - e muitas músicas que fogem dos moldes estrutural de canções que são feitas para tocar no rádio. Aqui, assim como nos outros discos da série "McCartney", Paul pega uma ideia e a explora do jeito que a sua cabeça mandar, não importando se a melodia é pegajosa, se o riff é simples demais ou se o resultado é repetitivo. É simplesmente um convite para você assistir - ouvir - o músico brincando em estúdio. Enquanto "McCartney" foi muito afetado pelo término dos Beatles e "McCartney II" pelo final triste dos Wings, além das brincadeiras de Paul com sintetizadores, "McCartney III" traz um pouco da pandemia e também da vida cotidiana de Paul em canções simples e em muitos momentos interessantes, apesar de outros nem tanto. Um fator que pesou negativamente aqui foi a dificuldade de Paul em cantar. Há tempos sua voz vem mostrando sinal de cansaço e desafinando até para falar. É claro que estamos falando de um senhor de 78 anos e com o peso de décadas em turnê, portanto, as melodias acabaram ficando de certa forma limitadas. Do lado positivo, Paul parece ter entendido isso e cantou em tons mais graves. E também como fator positivo, o disco está muito bem gravado e o som é ótimo. São onze faixas e o disco abre com a quase instrumental "Long Tailed Winter Bird", que traz um riff acústico legal e umas batidas abafadas no violão. "Find My Way" me fez lembrar um pouco de "Memory Almost Full" e tem Paul brincando com alguns efeitos em uma canção diferente, de estrutura bem simples e interessante. "Pretty Boys" é uma das acústicas bonitinhas do disco e "Woman And Wives" traz um pouco do lado denso de "Chaos And Creation In The Backyard" ao som do piano. O rock chega com "Lavatory Lil", curtinha e direta, e "Deep Deep Feeling" me chamou bastante a atenção. Uma faixa com mais de 8 minutos com colagens vocais interessantes e um clima cadenciado e denso. Depois o clima denso se mantém em "Slidin'", uma faixa de digestão lenta, embora o riff seja ótimo. Voltando para mais uma balada acústica, "The Kiss Of Venus" é belíssima, com sua melodia interessante e um vocal de Paul bem no estilo "Calico Skies", do álbum "Flaming Pie". A popzinha "Seise The Day" também funciona bem e "Deep Down" volta ao clima de "Deep Deep Feeling" com experimentalismo interessante na combinação densa de teclado/violão. Por fim, "Winter Bird / When Winter Comes" fecha com classe trazendo o riff da primeira faixa no início seguindo para uma baladinha no estilo "Blackbird", dos Beatles, possivelmente a única faixa que pode ser considerada um hit. Gostei bastante dela e aqui Paul canta muito bem. Quando lançou "McCartney", Paul foi massacrado por não ter sido compreendido, e "McCartney II" teve seu valor reconhecido com o passar do tempo. Veremos o que acontecerá com "McCartney III". Mas uma coisa é fato: nestes três discos, Paul estava fazendo música para ele e não para a mídia e os fãs. São três trabalhos extremamente pessoais, diversificados e que gosto bastante. Ademais, com todos estes fatores em consideração, para mim o resultado aqui é bastante positivo.
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Sobre o álbum

McCartney III
Álbum disponível na discografia de: Paul McCartney
Ano: 2020
Tipo: CD/LP
Avaliação geral: 4,1 - 5 votos
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