Clássico do punk nacional
Adeus Carne foi um dos álbuns que arrependi de não comprar, e com certeza se achar alguma cópia dando sopa a um preço camarada, não exitarei em faze-lo. O fato é que o disco disputa palmo a palmo entre o melhor do grupo, palmo a palmo com o EP Pânico em SP. Deixou também a banda mais confortável e acessível para tocar nas rádios e agradar gregos e troianos, até mesmo quem via o punk com olhos tortos. “Pátria Amada” deveria ser o substituto imediato do nosso dissimulado hino nacional, que é belo em melodia e enganador na essência. Clemente cospe toda a raiva e sente o golpe da traição, assim como cada brasileiro sente a cada dia, embora alguns insistam em acreditar em políticos que se dizem patriotas. Como dizia minha saudosa avó, : "gente tonta e mato na calçada não acaba nunca". "Eu" seguia soltando o cachorro na repressão, com riffs que beiravam o heavy metal. Por outro lado, "Morrer aos Dezoito" era apenas uma canção de desesperança ao futuro e uma crítica ao regime militar. Os riffs de "Não sei quem Sou" é um dos melhores do rock nacional, pois o punk feito por aqui encontrou identidade mesmo com toda influência britânica. De letra simples, apenas observação do cotidiano juvenil. Outro destaque fica com "Não é Permitido". E agora sei que não devo soltar a palavra hit para ele, pois no punk pode soar heresia. Como o nome entrega, é uma canção sobre proibições, e chama atenção por uma linha de baixo minimalista e bem pronunciada. O que não é permitido para os Inocentes é deixa-la de fora dos shows, pois virou um hino no momento de sua concepção. "Cidade Chumbo" modula o punk com outros estilos. Por isso mesmo encontramos até frases dispersas de pianos e também solos altamente blues. "Na Sargeta" é uma das melhores canções dos Inocentes, de letra bem elaborada e densidade que deixa muita banda heavy comendo poeira. Para não alongar mais o texto, termino com a instrumental faixa título, que é absurdamente estranha e soturna. Com direito a um samba no final, como se eles soubessem que todas as críticas e conselhos sobre o caos social iriam por fim, acabar em samba. Dessa forma percebemos a "evolução" de um país, quando passado mais de trinta anos não mudou sequer uma vírgula e o conteúdo do disco continua atualizado. A ditadura "acabou", e agora despejamos a raiva guardados na jaula das redes sociais, a arma mais perfeita criada pelo establishment para manter a população dopada. O punk sempre teve razão, concordem ou não.
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Sobre Marcel Dio

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Sobre o álbum

Adeus Carne
Álbum disponível na discografia de: Inocentes
Ano: 1987
Tipo: CD/LP
Avaliação geral: 5 - 1 voto
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