
Resenha
O Rigor E A Misericórdia
Álbum de Lobão
2016
CD/LP
Por: Marcel Dio
Colaborador Sênior
20/03/2020
Um Djavaneador Roqueiro
Esse álbum marca a forte posição política que pairou sobre a cabeça de Lobão, tão confusa quanto o próprio direcionamento posto a prova nesse trabalho. Lobão tocou todos os instrumentos e produziu o álbum, gravando tudo em seu estúdio caseiro. O resultado foi um som saturado e poluído demais em canções com peso, já nas partes acústicas a mixagem não interfere tanto no saldo. A apresentação com Overture remete uma notável instrumental progressiva, assustadora e épica, totalmente disforme em um álbum dele. É apenas o prelúdio para uma das canções mais patéticas produzidas em sua carreira : "A Marcha dos Infames". Uma marcha que se traduz no ritmo da bateria. O artista coloca-se como o descobridor da pólvora, escarnecendo a chaga política mais manjada e velha que Matusalém. Dando um sobretom de sarcasmo totalmente tosco e presente na maioria das faixas, como um verdadeiro desbravador da verdade absoluta a cantar como um bêbado satírico. O rascunho adolescente é estragado definitivamente com incríveis coros de Lá la la la lá ... "Sangra a Mata" sangra a paciência, Lobão deveria ser mais direto em suas composições, pois entrou num lance intelectual que só interessa a ele. Sangra a Mata mostra uma composição que não vai a lugar nenhum, como um cachorro a perseguir o próprio rabo. Uma clara forçação de barra. Nem vou comentar a pieguice de "O Que Es la Soledad en Sermos Nosotros", deu preguiça. Então vamos para "Alguma Coisa Qualquer" e seu título auto explicativo, salvando se em solos de guitarra e riffs legais. Esqueça a letra, Lobão se perdeu de vez, deveria pedir reforço de seus antigos parceiros. "Dilacerar" cai na arapuca de Sangra a Mata, numa letra ininteligível, que nem mesmo o autor deve saber o que canta, tipo rimar melancia na bunda com melancolia profunda. O instrumental é passável, ainda bem. Na faixa título temos algo mais corriqueiro em discos feitos nos anos 90, soando mais rock and roll. Boa canção. "Os Últimos Farrapos da Liberdade" tem seus méritos, apesar de viradas desnecessárias e um baixo saturado ao extremo. A linha é muito boa em suas notas. Fosse um heavy metal o timbre caberia bem para complementar o peso, aqui não foi a melhor escolha. "A Posse dos Impostores" pode ser considerada uma Marcha dos Infames parte 2, melhorada em letras e instrumental. Ponto para a guitarrada pesada e bem timbrada. Voltando a 1995 com o belo e sortido Nostalgia da Modernidade, encontramos um samba com fado em "Ação Fantasmagórica a Distância", lembrando um tempo de ousadia e assertividade. Assertividade conseguida também na "Profunda e Deslumbrante Como o Sol Lobão", (que nome hein?). Som caótico com solos jazzisticos e estranhos que se encaixaram a marteladas dentro da harmonia. Ao pessoal que pega no pé de Humberto Gessinger, dizendo que suas "poesias" apresentam frases sem nexo, deveriam ouvir "Uma Ilha Na Lua", e assim verão o quão direto o gaúcho pode ser se comparado ao Lobo do século XXI - o mestre da logorréia moderna. Saquem esse trecho : "A alegria vem com o frio da manhã E com a compressa quente de um ronronar Um embalo doce de ninar E nós... na cama Tudo é tão simples e transcendental Ao fazer um arco-íris no jardim Um sussurro de ternura na canção E o orvalho na grama Na floresta encantada dos tigres mirins Para os gatos' o jardim é uma selva O aconchego é o espírito que traz Quando o lar é a alma". A triste verdade é que Lobão capotou a carroça, criou um jeito de compor que beira a caricatura do djavanear ou caetanear, a do último, considerada língua morta pelo cantor, a quem ele diz detestar, ao mesmo tempo cair na armadilha de ser igualmente chato. Lobão tem que voltar a simplicidade e parar com essa poesia forçada, voltar a falar coisa com coisa.
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Sobre Marcel Dio

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"Sou um amante da música, seja em qualquer estilo, rock, blues, jazz ou pop."
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Sobre o álbum

O Rigor E A Misericórdia
Álbum disponível na discografia de: Lobão
Ano: 2016
Tipo: CD/LP
Avaliação geral: 2,5 - 1 voto
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