O Jazz sem fronteiras de Coltrane
John Coltrane é , juntamente com Miles Davis, o nome mais emblemático do jazz. O impacto de seu trabalho foi tão grande que existe, nos EUA, até mesmo uma igreja, cristã, onde ele é venerado como um santo, LITERALMENTE. Digite “Coltrane Church” no Google e veja por si mesmo. A despeito do exagero que toda essa adoração possa ser, fato é que John Coltrane foi um músico absurdamente singular, com uma obra igualmente única. Ele começou de uma forma mais tradicional, e aos poucos foi abrangendo seu repertório composicional e técnico. Verdade é que no fim de sua carreira, o nível de experimentalismo do músico era tão grande que muitos de seus últimos lançamentos são realmente dificílimos de serem digeridos, onde ritmo, melodia, harmonia e técnica são trabalhados de forma totalmente diferenciada, ou mesmo totalmente abolidas (escute o álbum “Interstellar Spaces”, e me diga depois...). Aqui, em “Olé Coltrane” encontramos um saxofonista ainda mais comedido, ainda que muito do disco possa ser considerado experimental. A influência de música espanhola é bastante evidente, especialmente na faixa que da titulo ao disco, “Olé”. Um ritmo hipnótico levados pelo piano, que atua de forma muito mais percussiva do que harmônica, seguido pelo baixo, igualmente percussivo e circular são a base de improvisos de caráter fortemente espanhol e até mesmo árabe ( que é a origem da música espanhola, devido a ocupação moura que ocorreu durante a idade média). Em seguida temos “Dahomey Dance”, música mais rítmica e de melodias mais palatáveis, onde Coltrane atesta novamente seu virtuosismo absurdo, aliado a uma tendência de procurar sons inusitados no seu instrumento. Percebe-se, aliás, em todo o disco, uma busca de John por algum registro mais áspero, que contraste com as passagens mais melódicas e aveludadas. Em “Aisha”, a faixa seguinte, podemos encontrar o Coltrane do “Ballads”. Trata-se de uma das melodias mais lindas já desenvolvidas desde que o ser humano desenvolveu o sentido da audição. Não é uma composição dele, e sim do pianista Mccoy Tyner em homenagem à sua então esposa. Isso diz muito sobre o tipo de companhia que Coltrane se cercava musicalmente. E por fim temos mais uma balada maravilhosa, “Original Untitled Ballad (To Her Ladyship)", repleta de lirismo e introspecção. Se você nunca escutou nada de jazz, eu recomendo que você comece com o disco “Ballads” de Coltrane, e depois parta para cá. Dificilmente será uma experiência decepcionante. E viva o santo Coltrane! Banda: John Coltrane — soprano saxophone on "Olé" and "To Her Ladyship"; tenor saxophone on "Dahomey Dance" and "Aisha" Freddie Hubbard — trumpet Eric Dolphy — flute on "Olé" and "To Her Ladyship"; alto saxophone on "Dahomey Dance" and "Aisha" McCoy Tyner — piano Reggie Workman — bass on "Olé," "Dahomey Dance" and "Aisha" Art Davis — bass on "Olé," "Dahomey Dance" and "To Her Ladyship" Elvin Jones — drums
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Sobre Tarcisio Lucas

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Sobre o álbum

Olé Coltrane
Álbum disponível na discografia de: John Coltrane
Ano: 1961
Tipo: CD/LP
Avaliação geral: 5 - 1 voto
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