
Resenha
Out Of Myself
Álbum de Riverside
2004
CD/LP
Por: Márcio Chagas
Colaborador Sênior
22/02/2020
Uma estreia melancólica, perturbadora e genial
O Riverside é uma banda polonesa capitaneada pelo baixista e vocalista Mariuz Duda que iniciou sua trajetória no ano de 2004 lançando este debut. Logo que apareceram a crítica apressou em classificá-los como prog metal. Mas o grupo é bem mais do que isso, sua sonoridade vai além de bumbos duplos, guitarras distorcidas e vocais agudos e altíssimos. Ao contrario, o Riverside mostrou uma mistura heterogenia e madura em seu primeiro álbum, que se tornou uma pequena perola. A sonoridade do grupo é diferenciada, os músicos utilizam a melancolia característica do Opeth e Anathema, aliada ao progressivo psicodélico de Pink Floyd com a adesão de guitarras mais sujas e pesadas bem no estilo da segunda fase do Porcupine Tree e ocasionalmente Dream Theater. Porém a guitarra de Piotr Grudzinski é ligeiramente mais versátil, conseguindo um som mais pungente e progressivo nos momentos mais calmos e soando mais suja e agressiva nas partes mais dinâmicas. Essa versatilidade fica evidente logo na primeira faixa, a suíte The Same River”, que tem seu inicio eminentemente progressivo e vai se desenvolvendo até o ápice, aos quatro minutos, quando a distorção aparece em um riff galopante para em seguida ser abraçada por um solo passional e viajante. Essas variações de guitarra casam muito bem com a voz complacente e até mesmo depressiva de Mariuz, que consegue apresentar ecos de Steve Wilson e Steve Hogart em seu timbre personalíssimo e por vezes etéreo. Além de um timbre vocal personalíssimo, o músico ainda cria linhas fortes e pungentes de baixo, dando segurança a sonoridade do álbum. O tecladista Jacek Melnicki consegue criar belas camadas e sobreposições de teclados e sintetizadores, criando a ambiência perfeita para o som melancólico do grupo. Nas partes mais pesadas, o musico consegue traçar bons duelos com a guitarra. Uma pena que o Jacek só tenha tido a oportunidade de mostrar suas habilidades neste disco, saindo logo em seguida. O baterista Piotr Kozieradzki já era conhecido na polônia e região, tendo integrado bandas que vão do death metal ao progressivo e possuía boa experiência que foi muito bem utilizada na busca pela identidade do grupo. O músico sempre opta por tocar para a banda, criando uma base sólida sem bumbos duplos chatos e atletismos desnecessários. As letras seguem uma coerência com instrumental criado, que abordam as agruras da mente de um homem a beira de um colapso mental, mas que se recusa a desistir. Não sei se foi a intenção do grupo, mas “Out of My Mind” pode ser considerado um álbum conceitual dado o tema abordado por todo o disco. Um bom exemplo de união entre letra e musica é a segunda faixa “Out of Myself”, uma canção pesada e perturbadora: “Eu não me sinto tranquilo / Acho que estou perdendo coração / Estou enjoado e cansado de todas aquelas palavras / Vozes na minha cabeça / Eu acho que eu me tornei / Outro sofrimento de minha alma...” diz parte da letra. “I Believe” tem o violão folk dominado o tema, cercado de vozes psicodélicas e etéreas. Essa faixa poderia estar tranquilamente em “Lightbul Sun” do Porcupine Tree. A complacente "Loose Heart", traz a tona basicamente as influências progressivas do grupo, com seu andamento arrastados e solos melódicos. Uma das minhas favoritas do álbum é “In Two Minds”, calcada nos violões e amparada por uma guitrra floydiana que insiste em solar ao fundo por quase todo o tema. Embora seja bastante influenciada pelo neo prog em toda a sua estrutura, não pude deixar de notar um trabalho parecido com o que Alex Lifeson fez em algumas canções do Rush, misturando acústico e elétrico em um mesmo padrão. “The Curtan Falls” é um mini épico de pouco mais de sete minutos, uma das mais psicodélicas, com belas camadas de teclado e vocais sussurrantes de Mariuz, mostrando que a banda não se limita ao estilo denominado prog metal, apesar de bons riffs de guitarra. Tudo que envolveu a concepção do disco foi muito bem pensado, inclusive a musica que encerra o álbum, a esquizofrênica balada “Ok” que conta com o trombone peculiar do convidado Krzysztof Melnicki e seu refrão pra lá de depressivo: Há tristeza em minha mente - ok / Há escuridão em minha mente – Ok. Vale destacar ainda as instrumentais “Reality Dream I e II” onde o grupo pode demonstrar toda sua gama de influências. São temas sincopados e calcados na guitarra de Grudzinski, que mais uma vez da um show de bom gosto, sabendo dosar as influencias pesadas e progressivas. Emoldurando a concepção musical e artística do grupo, está a arte do americano Travis Smith, responsável por configurar capa de grandes nomes da sonoridade deprê como os citados Opeth e Anathema, alem de Dead Soul Tribe e muitos outros. “Out of Myself” possui uma sonoridade homogênia e linear, difícil de ser conseguida até mesmo por bandas veteranas, o que torna este trabalho um dos mais empolgantes discos de estreia de um grupo prog lançado nos últimos 20 anos. O grupo seguiu lançando outros grandes trabalhos, mas em minha opinião nenhum chegou a ser perfeito como este. A banda sofreria um duro golpe em 2016 com a morte precoce do guitarrista Grudzinski, que acarretou profundas e significativas mudanças em sua sonoridade.
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Sobre o álbum

Out Of Myself
Álbum disponível na discografia de: Riverside
Ano: 2004
Tipo: CD/LP
Avaliação geral: 4,1 - 5 votos
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22abr, 2022
Out of Myself é um disco belíssimo e que mostra um grande equilíbrio entre sonoridades melancólicas e agressivas
Tiago Meneses
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