O Início de uma nova era!
Eu sempre insistirei na teoria de que a banda ASIA foi o conjunto que mais soube mesclar a complexidade do rock progressivo com toda a facilidade buscada pelo pop e rock arena difundido nos anos 80. Ainda que a banda muitas vezes corra o risco de não agradar nenhum dos públicos – por ser acessível e “farofa” demais para os amantes do progressivo, e por ser complexa demais para os amantes radiofônicos – a banda pode e deve SIM ser citada quando o assunto for a coragem de abraçar as tendências radiofônicas sem qualquer pudor, e mesmo assim manter o interesse de criar canções marcantes, interessantes e (por que não dizer?) complexas. O ano de 1992 representou uma guinada radical para a banda, acima de tudo pela entrada do baixista e vocalista John Payne. Dono de uma voz absurdamente encorpada e marcante, de uma afinação infinita e repleta de drives capazes de deixar muito cantor de hard rock com inveja, Mr Payne trouxe uma nova identidade à banda, e isso se refletiu nas composições, que claramente foram feitas para aproveitar o melhor que a voz do cantor oferecia. E assim surgiu o “Aqua”, o primeiro capítulo da “nova” fase do Asia, sendo o quarto disco da discografia da banda, que até então apresentava a peculiaridade de ter todos os nomes de seus álbuns nomeados com palavras únicas começadas com a letra “A” ( característica essa que se manteria ainda nos próximos 2 lançamentos, “Aria” e “Arena”). Ainda que não seja uma opinião unanime, tenho a coragem de dizer que com Aqua o Asia deixa de lado o lado mais fácil e radiofônico da sua faceta pop e decide abraçar uma classe e uma sutileza composicional até então tímida e não totalmente desenvolvida. Ainda que os refrões grudentos estejam lá - "Lay Down your Arms" está aí para provar isto – músicas como "Heaven on Earth" são cheias de nuanças e harmonias inusitadas, cheias de climas e ambientações. O retorno de Steve Howe, que mais uma vez havia dado uma pausa junto ao YES, também reflete essa proposta. Aqua foi o adeus do Asia aos anos 80 e um “welcome” para os anos 90, sem querer desmerecer com esse comentário nenhuma das duas décadas. Musicas como “Someday” e “Who will Stop the Rain” são surpreendentemente roqueiras, mas na medida que esperaríamos do ASIA; a música começa com uma pegada densa, e quando você pensa que tudo vai se intensificar, surge o refrão, grudento e radiofônico como sempre e pronto! Nunca mais se tirará essa melodia da cabeça. Não há músicas ruins nesse disco. Seria impossível. Afinal, um line-up composto por Al Pitrelli, Steve Howe, Carl Palmer e Geoff Downes (além do já citado John Payne) seria incapaz de realmente cometer atrocidades musicais, mesmo se quisessem. Penso que muito provavelmente a maior dificuldade do Asia, nesse disco e em todos os outros, sempre foi o de balancear os talentos e virtuoses presentes em favor de uma música que continuasse simples e interessante para os milhões de fãs da banda que a escutava através das ondas do rádio. A arte da capa de Aqua foi criada por ninguém menos que Roger Dean, o pai da estética do rock progressivo que tanto marcou o estilo nas décadas anteriores, especialmente nas capas do YES. Aqui temos um trabalho interessante, que parece ser o que teríamos visto no cinema se George Lucas tivesse criado Star Wars sob a influência de substancias psicotrópicas. A estreia de Payne foi primorosa. Se dúvida, escute a interpretação do cantor na faixa “A Far Cry”, e tire suas próprias conclusões. “Aqua” obteve um sucesso moderado. A banda emplacou alguns hits , como “Who Will Stop the Rain”, mas não atingiu a estratosfera como seu disco de estreia havia feito. Apesar de tudo, temos aqui um dos melhores discos de AOR/progressivo da década de 90, com certeza. Se eu tivesse que recomendar uma única música deste disco, sem dúvida seria “Back in Town”, uma música primorosa, capaz de agradar a todos, sendo essa uma música completíssima, de um bom gosto acima de suspeita, e com trechos bem “progressivos” em sua estrutura, além de um solo de guitarra de Pitrelli simplesmente estonteante. Tudo que foi apresentado em “Aqua” seria ainda mais bem trabalhado no seu sucessor, “Aria”, uma verdadeira obra prima. Acredito que os anos futuros trarão um “redescobrimento” do trabalho dessa excelente banda. E quem disse que rock progressivo precisa ser complicado?
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Sobre Tarcisio Lucas

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Sobre o álbum

Aqua
Álbum disponível na discografia de: Asia
Ano: 1992
Tipo: CD/LP
Avaliação geral: 4,25 - 2 votos
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