Lírico, cadenciado e melódico!
Você pode não ter ouvido falar de Mark Isham, mas com certeza já deve ter ouvido sua música. Isto porque este trompetista, tecladista arranjador e produtor americano compôs várias trilhas sonoras para as grandes produções Hollywoodianas. Tanto trabalho deu a Isham certo prestígio no meio artístico, mas também atrapalhou exponencialmente sua carreira musical. O trompetista ensaiou uma obscura carreira solo nos anos 80, lançando álbuns para as gravadoras Windham Hill e a prestigiosa ECM, ao lado de músicos do porte de David Torn e Bill Bruford. Porém, seu trabalho com trilhas sonoras sempre foi prioridade. Fora isso, embora gravasse discos de música instrumental influenciados por fusion, new age e música eletrônica, faltava a Mark Lançar um CD eminentemente de jazz, priorizando seu trompete e demonstrando sua técnica e inventividade no estilo. Somente em 1994 Isham decidiu reunir uma equipe invejada de músicos na intenção de gravar um disco de jazz e exteriorizar suas influências de Miles Davis, Art Farmer e outros mestres. Dois músicos recrutados por Mark tiveram essencial importância na harmonização musical do álbum: são eles Steve Tavaglione, que com o seu saxofone tenor ficou encarregado de fazer um contraponto com seu trompete, e o pianista David Goldblatt, que traria uma maior enriquecimento musical as canções unindo os dois principais instrumentos de sopro Doug Lunn e Kurt Wortman foram chamados para cuidar da cozinha e os guitarristas David Torn e Peter Manu ficaram responsáveis por eventuais, porém importantes participações. Isham optou por trazer o estilo utilizado em trilhas sonoras para o álbum. Deste modo, a sonoridade lenta e cadenciada impera em boa parte do álbum, fazendo com que o disco tenha um ar mais soturno porém extremamente lírico e bem construído. “Barcelona” abre o álbum com ecos de música flamenca, com Isham colocando seu trompete a frente da canção. O sax de Tavaglione entra como coadjuvante, mas essencial para a construção do tema; “That Beautiful Sadness”, é uma canção lenta, em que Mark privilegia o tema, solando pausadamente em duo com Tavaglione. O piano minimalista de Goldblatt enche o tema de harmonia; Em “Trapeze” Mark traz a tona todas suas influências do mestre Miles Davis, onde se inicia solando de maneira esparsa, repetindo o tema central e sendo seguido por todo o grupo. Há espaço para improviso, onde todos os músicos se sobressaem evidenciando a unidade da banda. É um tema de quase sete minutos, com várias nuances e mudanças de andamento; “Lazy Afternoon” é um tema curto e soturno, quase uma pequena balada, onde o trompete de Isham estabelece uma conexão com o lírico piano de Goldblatt, enchendo o ambiente de uma beleza quase lúgubre; A faixa título é o tema mais longo do álbum. Começa soturna e vai crescendo à medida que se desenvolve, com os músicos aderindo aos poucos ao tema. O trabalho de Isham e Tavaglione mais uma vez merece aplausos efusivos pelo senso lírico e melódico impresso na canção. Aqui, ao invés de optarem por um contraponto, os músicos uniram seus instrumentos em uníssono, sendo amparados mais uma vez pelo onipresente Goldblatt. Destaque ainda para o baterista Wortman. A seguir vem “In More Than Love”, outro tema em que Isham/Goldblatt se sobressaem. A canção tem uma atmosfera meio de cabaré, característica do cool jazz oriundo dos anos 50 e 60. Mais uma vez a influência de Miles vem à tona, principalmente no timbre do instrumento de Mark. Merece menção o solo de Goldblatt, que consegue se sobressair sem descaracterizar o estilo do álbum; “And Miles to Go... Before He Sleeps”, é uma canção que se inicia com uma base em ostinato evidenciado o trompete do líder. Tavaglione faz seu solo oportunamente após Isham, trazendo novos elementos líricos ao tema; No final do disco temos o primeiro e único cover, “In a Sentimental Mood”, clássico de Duke Ellington gravado ao lado de John Coltrane. Isham deixou o tema ainda mais lento e cadenciado, subvertendo a canção de maneira positiva, e imprimindo frescor ao velho clássico; Para encerrar vem “Tour The Chance”, onde novamente Mark e Steve Tocam em uníssono. É uma canção de certo modo mais rápidae dinâmica que o restante do CD, mas que se encaixa perfeitamente na proposta musical apresentada. “Blue Sun”, foi lançado em 1995, e embora o trompetista tenha participado de alguns festivais europeus, tal fato não foi suficiente para colocar o disco em evidência. O álbum continua sendo uma pérola perdida do estilo, mas não é exagero colocar o disco como um dos melhores de toda década de 90.
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Sobre Márcio Chagas
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Sobre o álbum

Blue Sun
Álbum disponível na discografia de: Mark Isham
Ano: 1995
Tipo: CD/LP
Avaliação geral: 5 - 1 voto
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